Quando vim morar para o Nordeste Transmontano, tinha a convicção de que esta era seguramente uma das zonas mais bonitas de Portugal. Volvidos 6 anos, tenho agora a certeza: esta é MESMO a região mais fantástica do país.
O que me faz dizer isto?
Essencialmente, a variedade paisagística, com destaque para a alternância entre carvalhais, lameiros (prados, para quem não está acostumado à palavra), soutos, hortas, vinhas, rios, searas..., distribuídos por um relevo muito dinâmico - dos vales sombrios às montanhas de altitude moderada (mas a uma invejável “cota de neve”, durante o inverno), das escarpas abruptas do Douro às colinas da Terra Quente, passando pela planura da Meseta Ibérica, que também nos toca lá para as terras de Miranda.
Com este cenário, é evidente que as estações do ano se fazem anunciar como em nenhuma outra zona do país. Para mim, que tenho uma amostra bem representativa de tudo isto mesmo em frente à janela, é como mudar de casa quatro vezes ao ano... para um sítio diferente mas igualmente belo... sem nunca me cansar!
E este outono foi mesmo impressionante!
Se num dia as cores eram fantásticas, no dia seguinte conseguiam ser ainda melhores. E depois vem a chuva, a emprestar um brilho luxuriante aos castanheiros, ou chegam nevoeiros, mergulhando os bosques num mistério de fábula, e logo depois uns derradeiros raios de sol pintando tudo a ouro, subitamente. E quando já não ousamos esperar mais nada, eis que aparece um arco-íris glorioso, daqueles completos e com cores perfeitamente definidas - “sem químicos!”, como afirmou um serralheiro que presenciou o espetáculo comigo, do telhado de minha casa (num original superlativo à sua maneira).
Mas não se trata apenas das diferentes espécies arbóreas (autóctones!, graças a Deus), da alternância geográfica ou do temperamento meteorológico; a beleza avassaladora da região vem também do conjunto de realidades e sensações que resultam dessa mesma pluralidade: como os corços que se veem de repente no meio do caminho; a raposa que reencontramos dias a fio a atravessar o mesmo lameiro; os javalis que se ouvem ali bem perto, entre as giestas, ou a brama rouca, crepuscular, dos veados; o perfume primaveril do feno recém-segado (cortado, para quem não é de cá) ou o intenso cheiro a terra durante as trovoadas estivais. Os cogumelos, as castanhas, a água fria e límpida do rio, a lontra que o atravessa, mesmo ali, num vislumbre de sorte. O mar de urzes em flor – brancas ou lilases – no alto de Montesinho, o amarelo das carquejas e das giestas... às vezes também brancas. E as borboletas, imensas, e o crocitar das gralhas enquanto vou cortando a lenha no quintal. E o cheiro a fumo de carvalho, que ao cair da noite sai da chaminé do senhor Fernando – e da alheira que de seguida põe na brasa (é outra forma olfativa de reconhecer o outono; já o verão, chega com as sardinhas assadas da dona Antonieta). Sim, o Nordeste Transmontano é tudo isto. Sim, o Nordeste Transmontano é muito mais.
Então e o litoral? Não tenho saudades do mar que me viu nascer?
Gosto muito do mar. Adoro o mar. E quando quero ir ao mar, vou ao mar (da Galiza, que gosto mais). Mas a verdade é que deixámos estragar o litoral (e muitas outras zonas do país, já agora). Conheço suficientemente Portugal para reconhecer que tem outras belas regiões, mas quando se trata de nomear a melhor, não tenho dúvidas: é Trás-os-Montes.
Estarei a exagerar?
Não!
Mas como não somos egoístas, eu e a Ana resolvemos começar a partilhar estes sítios com verdadeiros apreciadores. Isto não é para toda a gente... é mesmo para quem gosta de andar devagar e experimentar a fundo os cinco sentidos durante uma boa caminhada – numa manhã bem fria, de chuva até. É aí que se vê o calibre dos autênticos gourmands.
Esta nossa delicatessen chama-se Bétula Tours.
O inverno está aí. Trás-os-Montes está aqui. O que esperam?
P.S.: a maioria destas imagens foi captada num espaço de apenas seis dias.